Qual não foi minha surpresa quando, ao começar a pensar neste texto, descobri que o neologismo que tinha acabado de inventar já se multiplicava sem nenhum pudor nas páginas do Google: "datenização!". Vejam vocês... parece que cheguei um pouco tarde, mas não nos deixemos abalar, afinal, isso só reforça ainda mais o que temos por dizer.
Datenização (s. m.) - tendência ao exagero na exposição do pior que há nos fatos; opção pela violência escancarada e repetitiva que, de tão explícita, se torna banal; assegura-se no sensacionalismo e nas frases de efeito, geralmente trazendo ideias e opiniões arcaicas forjando uma justiça com as próprias mãos num Estado desconhecedor de qualquer Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948); utiliza-se de câmeras com foco quase infinito nas vísceras e nas lágrimas; o sofrimento humano às últimas consequências, diante do que nos paralisamos extasiados em uma lógica do "não há mais o que se fazer", apenas olhar mais um pouco.
Inexplicavelmente, um avião caiu! Inexplicavelmente, um candidato à presidência morreu! Inexplicavelmente, surge em nós uma necessidade de vasculhar demoradamente cada destroço, um por um: imagens, textos, depoimentos, familiares, primos dos vizinhos... tudo agora nos pertence e nos convoca.
A pergunta que (não) quer calar seria mais ou menos como: O que em nós contribui para semelhante fascínio? Por que continuamos ligados aguardando o melhor "close"? O que na cena nos faz urubus?
A violência mais crua do corpo mais dilacerado exerce em nós, pobres mortais, um êxtase único! Forçamos os olhos diante das imagens já escancaradas para tentar ver mais alguma coisa. Olhos insaciáveis! Será que alguém explica? Freud, talvez?